Com 37% do varejo em funcionamento, Eduardo Terra, presidente da
Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), um think tank que reúne
líderes do varejo, acredita que o varejo brasileiro vive hoje um
cenário de "três em um".
Como o impacto da
crise do vírus sobre os negócios é diferente para cada segmento, as
soluções para os negócios precisam ser avaliadas com cuidado. "Temos
hoje, aproximadamente, 37% do varejo, que corresponde a supermercados,
farmácias, pet e outros setores essenciais, com operação normal. Para
esses varejistas, os desafios são bem diferentes daqueles que tiveram
que fechar as portas", disse Terra, em live realizada no Instagram na
última quarta-feira (01/04).
Para o
especialista, esses segmentos do varejo mantiveram, desde o início da
crise do vírus no País, vendas acima do normal, mas apresentando um
início de desaceleração no fim de março. "O desafio é manter o
abastecimento das lojas e preservar a saúde dos colaboradores e dos
clientes", diz.
Na outra ponta, estão os
60% do varejo, que precisaram fechar as lojas físicas. "Embora boa parte
esteja vendendo online, o nível de consumo passa a ser diferente,
porque o consumidor tem outro grau de confiança e está mais focado em
itens essenciais?, avalia Terra.
O cenário é
mais delicado nos setores ligados à moda, que além de tudo sofre com a
sazonalidade dos estoques. "Ainda não se sabe quando as lojas abrirão,
mas não adianta abri-las com os produtos de março", pontua o presidente
da SBVC. Nesses casos, é importante ter muita atenção ao fluxo de caixa
e buscar alternativas para vender. Os canais digitais passam a ser uma
saída para manter os negócios em operação nesse momento. ?O e-commerce
não parou de funcionar e, embora seja preciso ter cuidados extras com a
saúde das equipes e existam alguns problemas de entrega pelo aumento da
demanda, ele é hoje o caminho viável para quem vai continuar com as
lojas fechadas pelo menos mais um mês", explica.
Para
o presidente da SBVC, em um cenário otimista poderá haver uma
reabertura parcial do varejo não essencial daqui a um mês. "Acho
praticamente impossível retomarmos antes disso, pois não chegamos ainda
ao pico da epidemia", diz. Para Terra, uma projeção mais realista é
manter as portas fechadas até o final de maio. "Precisamos nos preparar
para um cenário pior e esperar que o melhor aconteça, mas enquanto isso o
varejo deve aproveitar para inovar e criar novas possibilidades de se
relacionar com os clientes", comenta Terra.
Transformação digital acelerada
Em
várias empresas, as vendas online têm se multiplicado por três, quatro,
cinco vezes, só não crescendo mais por falta de produtos ou por
gargalos logísticos. "Claro que as pessoas estão comprando online por
não terem outra opção, mas o consumidor está experimentando, testando.
Nem sempre essa experiência está sendo boa, mas é uma oportunidade para
estabelecer um relacionamento com o cliente e, quando a crise passar,
ativar essa base de um jeito diferente para mantê-la como consumidora em
tempos normais", analisa Terra.
O caminho
ideal do e-commerce, com plataformas estruturadas, conectadas ou não a
marketplaces, é na verdade um dos caminhos. "O exército de vendedores
pode e deve ativar os consumidores pelos meios online, como redes
sociais e WhatsApp. É a hora de ativar bases e cadastros para tentar
vender os estoques que estão trancados. Nesses próximos dois meses, o
consumidor não irá à loja, então é hora do vendedor ir até o cliente",
decreta.