Os riscos para os negócios de salões de beleza e as oportunidades da retomada

Os riscos para os negócios de salões de beleza e as oportunidades da retomada
De acordo com a avaliação do SEBRAE, até um terço dos salões em operação pode não sobreviver à crise. Beauty Fair reúne atores do mercado profissional para debater o momento e soluções para  o momento da retomada


Sem poder operar na maior parte das grandes cidades brasileiras e lidando com a interrupção abrupta na receita, os salões de beleza estão entre os segmentos do mercado mais afetados pela pandemia de coronavírus e as medidas tomados por governos para combatê-la. A situação é particularmente crítica para o universo de quase um milhão de profissionais de beleza que são MEI´s (microempreendedor individual) e operam por conta própria ou em salões.

Para buscar entender como os diferentes atores do segmento profissional de beleza estão encarando a situação e, mais ainda, em como pensam a retomada, a Beauty Fair realizou na última quinta-feira (2/4), o primeiro de uma série de webinars para tratar dos cenários do mercado de beleza no momento atual. O evento foi mediado pelo diretor superintendente da Beauty Fair, Cesar Tsukuda.

Consultora para a área de beleza no SEBRAE Nacional, Andreza Torres, diz que nesse momento, empresários e pequenas empresas estão preocupados em como manter o negócio. Nesse cenário, a consultora diz que a entidade busca fazer uma interlocução com o governo para que que se viabilize um plano capaz de manter os negócios de beleza vivo durante o período de distanciamento social. O recém aprovado projeto de lei do "coronavoucher" contempla parcialmente os MEI´s.

Andrezza diz que de acordo com uma pesquisa realizada pelo SEBRAE, até um terço dos salões pode não sobreviver a crise. "Nossa interlocução com o governo vai no sentido de oferecer dados para o governo, que possam ajudar a subsidiá-los". O área de beleza da entidade já teve uma reunião com o ministério da economia no final de março. O pleito envolve três momentos segundo ela: o pleito para os salões, o pleito para os profissionais MEI´s e um terceiro pleito comum aos dois em pleitos que vão desde a isenção de tributos de toda a natureza, até questões referentes às regras de aluguel. A consultora também tratou da preocupação sanitária que envolve os salões em praças nas quais eles ainda podem estar abertos.

O SEBRAE também está apoiando as pequenas empresas e microempresários com recursos do FAMPE, o fundo de apoio a micro e a pequena empresa, que está liberando milhões de reais para essas empresas. "Por meio do fundo (em parceria com governos locais), conseguimos alcançar muito mais negócios, que não seriam aprovados em um credito de mercado comum. É uma opção muito boa, desde que o empreendedor faça a conta do jeito que ela deve ser feita", disse Andrezza.

Do lado da indústria, o diretor-geral da L'Oréal Produtos Profissionais, Tiago Pereira, diz que a empresa tem anunciado medidas de apoio aos negócios dos salões que tem relações comerciais com a multinacional francesa. "Fizemos o congelamento de todos os boletos e faturas com vencimento neste período de crise e congelamos o aumento de preços que tradicionalmente é feito em abril", contou o executivo. Além disso, Tiago disse que todo o conteúdo educativo da divisão Profissional está sendo disponibilizado de forma gratuita nas plataformas da companhia e lançou a iniciativa BelezaAmiga #juntospelosalao.

Para Tiago, a L'Oreal tem um papel claro do seu papel na retomada, eme special no sentido de devolver a confiança ao consumidor, porque na hora em que o mercado retomar e o salão de beleza reabrir, parte das consumidoras ainda podem estar relutantes. "A indústria tem de se unir em torno de uma causa e compartilhar quais boas práticas podem ser compartilhadas em relação a retomada da confiança do consumidor. Vai haver uma retomada, como já vimos no mercado da Ásia, mas ela terá ritmos diferentes, de acordo com a indústria e o setor", pontua.

Sócia-diretora da rede de salões Studio W, Rosangela Barchetta, abordou o papel da liderança no atual momento. "Estávamos começando a sair de uma crise econômica, de anos difíceis, e quando pensamos que a coisa ia engrenar, vem essa situação que foi um baque para todo mundo. É lógico que num primeiro momento bate um desespero. Mas você tem que tomar atitudes", acredita a empresária. Rosangela definiu que o momento é de priorizar, sem perder tempo buscando culpados, até porque ele não existe nesse caso.

Na hora de definir as prioridades, a sócia do Studio W foi buscar os valores da companhia. "A primeira prioridade é a vida. Nada é mais importante. A segunda é como ajudar essas pessoas, nossos funcionários. Temos feitos relatórios periódicos para a equipe com o que é fato. E, terceiro, precisamos pensar na empresa. Em como ela vai seguir?", diz Rosangela, que ressalta que o Studio W sempre foi uma rede muito organizada, que nunca teve dívidas e que sempre fez questão de manter reservas de caixa. Mas a rede enfrenta desafios proporcionais ao seu tamanho. O Studio W conta com quase 800 funcionários e estava empreendendo uma reforma na sua maior unidade, a do shopping Iguatemi, em São Paulo. "Agora, vamos ter de lidar coisas com as quais nunca lidamos. Nunca lidamos com divida, com atrasos de pagamentos. Ninguém sabe quanto tempo isso vai durar e precisaremos estabelecer critérios de prioridade", conta. Neste momento, o Studio W prepara o lançamento de vouchers de vendas antecipadas e está  buscando outras soluções, analisando a base de clientes, o caixa e refazendo todo o plano de 2020. Isso é o que temos que fazer agora. Fazer o que temos controle", diz ela, que acredita também que é hora de ter visão de futuro, porque muitas coisas vão mudar.

O salão depois da pandemia
Para Gustavo Nakanishi, CEO do Grupo Nakanishi, que controla a rede HélioDiff, apesar de toda a situação crítica que aflige os salões, ela representa uma oportunidade para vencer algo que já vinha acontecendo nas sombras. "Donos de salões vinham perdendo seus negócios porque não tinham tempo de aprender, por não saber gerir seus negócios, não saber lidar com parcerias humanas, com os parceiros que trabalham nos salões... Esse é o tempo para entender de tecnologia, que tende a vir mais forte depois desse momento, para retomar o negócio com um novo patamar de inteligência", acredita o empresário.

Andrezza, do SEBRAE, acredita que os salões vão emergir da crise mais organizados e mais digitalizados do que nunca, o que vai elevar o patamar do mercado. "Isso vai ser necessário para uma nova jornada. Foram 10 anos de transformação em 10 dias", reforça a consultora da entidade.

Finalizando o debate, Cesar Tsukuda, da Beauty Fair, lembrou que a retomada virá acompanhada de uma restrição de recursos e, que no dia seguinte a abertura dos salões, vai faltar dinheiro. E que este será o momento do mercado de beleza demonstrar a sua força e a capacidade de colaboração entre os seus diferentes atores. "Por que nós, o mercado de beleza, não podemos nos unir e buscar junto de instituições financeiras formatar uma grande cooperativa de crédito para o mercado de beleza, com todos os elos da cadeia garantindo uns aos outros?", provocou o dirigente.
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