Modernizando a segurança

Modernizando a segurança
Por pressões regulatórias e necessidades de garantir maior segurança aos consumidores, formuladores começam a olhar com mais atenção para opções mais modernas de preservantes


Sempre que se fala em tecnologias para formulações cosméticas as atenções naturalmente se voltam para os ativos. Creme de la creme no universo dos ingredientes cosméticos, os ativos chamam a atenção por serem eles os principais geradores de claims que podem agregar diferenciação para o produto (desde que comprovadas, naturalmente) e corroborar o seu posicionamento no mercado, especialmente se ele tiver uma proposta mais tecnológica ou sofisticada.

Mas, embora os ativos representem o topo da cadeia alimentar quando o assunto é formulação, eles não agem sozinhos. É preciso um conjunto de outros ingredientes para garantir uma boa base, capaz de oferecer um sensorial adequado e, inclusive, que os ativos sejam bem entregues quando o produto é aplicado na pele ou nos cabelos, por exemplo. De nada adianta colocar alta concentração de ativos caríssimos se a base do produto for "pobre". A eficácia do ativo certamente estará comprometida e o resultado ficará aquém das expectativas.

Mas existe outra classe de ingredientes extremamente importantes para o sucesso de uma formulação. Embora não tenham nenhum glamour e, historicamente, atraiam poucos holofotes, os preservantes são matérias-primas fundamentais para assegurar que a formulação não seja contaminada por microorganismos como bactérias, fungos e leveduras durante a vida útil do produto.

Contundo, nos últimos anos, eles têm chamado a atenção do mercado, mas não pelos melhores motivos. Reguladores têm proibido o uso de preservantes tradicionais para a indústria cosmética em diferentes partes do mundo. Algumas das moléculas mais utilizadas pelo mercado como conservantes usuais - caso da metilisotiazolinona (o MIT, como é conhecido entre os formuladores), do Triclosan, além da família dos parabenos - estão sob o escrutínio de diversas agências regulatórias, especialmente na União Europeia, que tem ampliada a sua lista de ingredientes restritivos para a indústria cosmética de maneira acelerada. Na Europa, desde fevereiro deste ano, o uso do MIT já é proibido em formulações de produtos do tipo leave on, ou seja, que não serão enxaguados após a aplicação, caso dos cremes hidratantes e de alguns produtos capilares.

Outro exemplo disso é o Triclosan, um dos preservantes mais comuns em formulações cosméticas. Há quase uma década que ONG´s nos Estados Unidos pedem a proibição do Triclosan, pois seu uso indiscriminado em categorias tão distintas como desodorantes e produtos de higiene oral, fez com que os microorganismos criassem resistência ao preservante, que estaria perdendo a eficácia. E de quebra, o Triclosan teria potencial cancerígeno. A partir de setembro deste ano, o uso do Triclosan está proibido em formulações de produtos com enxague, como os sabonetes, que usem o apelo antibacteriano nos Estados Unidos.

A constatação, após décadas de uso pela indústria, de que alguns desses ingredientes mais conhecidos e utilizados, como o MIT, oferecem potencial alergênico ? de acordo com as autoridades aconteceu um aumento substancial nos últimos anos de relatos de casos de alergia envolvendo esses preservantes tradicionais ?  e riscos para a saúde dos consumidores que hoje, as autoridades, especialmente a dos países desenvolvidos não estão mais dispostas a tolerar. E os consumidores, ainda que sem o mesmo grau de conhecimento técnico dos reguladores, também não. Isso tem se refletido na crescente tendência dos produtos "livre de conservantes" ou que oferecem "químicas mais suaves", que atingem uma fatia cada vez mais relevante da população.

Buscando alternativas
Independentemente do motivo, na prática essa situação tem limitado as opções para conservação de produtos pelos formuladores cosméticos. E os fabricantes de matérias-primas estão sendo desafiados para encontrar soluções que substituam os preservantes tradicionais anteriormente utilizados com a mesma eficácia, segurança e, principalmente, custo.

Uma das empresas que tem puxado a busca por essas novas soluções e a fabricante de ingredientes cosméticos Symrise, uma das líderes globais em preservantes que realizou um evento em São Paulo, no final de maio, para apresentar ao mercado local sua linha de ingredientes, que oferece alternativas desenvolvidas com o pensamento holístico, pensando na eficácia de proteção para as formulações, na segurança dos consumidores, na facilidade de uso e no custo benefício para os formuladores.

O portfólio de preservantes da Symrise se divide em duas linhas, uma composta por ingredientes que a empresa chama de preservantes modernos, produtos pensados para garantir a segurança das fórmulas, mas que oferecem uma química menos agressiva em relação aos produtos tradicionais usados para esse fim. Na verdade esses ingredientes não são listados na lista de preservantes tradicionais, mas eles servem perfeitamente a esta função. 

Uma segunda linha é composta por ingredientes multifuncionais, que também auxiliam na preservação das fórmulas além de potencializarem a ação de outros preservantes. "Nós não vendemos os preservantes clássicos. Nosso portfólio é composto por ingredientes modernos que vão de encontro às novas necessidades dos consumidores", explica Ravikumar Pillai, vice-presidente da área de Micro Protection da Symrise em entrevista à Atualidade Cosmética.

A história moderna dos preservantes da Symrise remonta há 25 anos, quando a Haarman&Reimer, uma das empresas que deu origem a atual Symrise, lançou o Hydrolite 5, um ingrediente multifuncional pioneiro que funcionava como um booster da ação preservante na fórmula, melhorava a biodisponibilidade dos ativos, a estabilidade do produto e ainda permitia a redução do custo total da formulação. A empresa também tem no portfólio ingredientes anti-oxidantes, que auxiliam na proteção da fórmula, caso do SymSave H, um composto idêntico à uma molécula natural encontrada na amora amarela, uma fruta alpina, e que é um ativo aprovado pela Agência do Meio Ambiente dos Estados Unidos como um ingrediente amigo da natureza por conta da sua segurança. A combinação de alguns desses ativos multifuncionais permite inclusive garantir a segurança da fórmula ao mesmo tempo em que se usa o claim "livre de preservantes".

O "desejado" e a realidade
Um dos desafios enfrentado pelos formuladores ao redor do mundo é que as soluções de preservantes mais modernas custam mais do que os preservantes tradicionais utilizados pela indústria. Ninguém discorda das melhorias e dos benefícios oferecidos pelos preservantes mais modernos disponíveis no mercado. O problema é como equacionar a formulação num cenário no qual o preço final não oferece muita margem de manobra. "Os formuladores estão tentando se equilibrar para introduzir os novos preservantes na formulação, garantindo mais segurança aos consumidores, sem que isso impacte demais no custo da formulação", conta Ravi. Por isso, a adoção dos preservantes mais modernos tem se dado primeiramente nas marcas de maior valor agregado, que sentem menos o acréscimo de custo que essa troca de ingredientes representa.

Apesar disso, o movimento não tem volta e as indústrias sabem que a revisão das formulações que ainda se baseiam em preservantes tradicionais é uma questão de tempo. Até porque, com as grandes multinacionais tendo que adaptar suas formulações para atender aos mercados mais desenvolvidos, como a própria Europa, é natural que elas façam o rollout dessas mudanças para suas operações ao redor do mundo, ainda que essa não seja uma obrigação em outros mercados.

Para Ravi, na América Latina - um mercado majoritariamente de mass market e no qual ainda se usa em sua grande maioria os preservantes tradicionais - as empresas da região estão começando a olhar de forma um pouco mais objetiva para a adoção dos preservantes mais modernos em suas formulações. "Ao menos é o que temos visto", reforça o pesquisador. Na Argentina, por exemplo, o Triclosan (sempre ele), estará proibido em formulações de produtos de enxague como sabonestes e géis de banho, a partir do próximo ano.

Esse novo olhar sobre os preservantes pelas empresas na América Latina, mais moderno, poderia levar os formuladores da região também a modernizar as bases utilizadas na sua formulação, também com um olhar mais moderno para a cosmeticidade dos produtos? Ravi acredita que não, justamente pela questão do custo. "Os formuladores não têm muita flexibilidade para mudar toda a fórmula ao mesmo tempo. Então, eles tentam fazer o mínimo de mudanças na fórmula quando adotam os novos preservantes, para impactar o mínimo possível no custo final da formulação. Tem que ser um passo de cada vez", lamenta.

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