Fusão Coty / P&G 2: a P&G com uma nova silhueta

Durante o seu primeiro mandato como CEO da P&G, nos anos 2000, o atual CEO A.G. Lafley, dedicou um grande esforço para turbinar o seu negócio de beleza. Um bom indicador disso foram as aquisições bilionárias realizadas nesse período. Em 2001 a empresa pagou US$ 5 bilhões para ficar com o negócio da Clairol. Em 2003, gastou US$ 7bilhões para assumir e fechar o controle da Wella. Pouco mais de 10 anos depois, a P&G está se desfazendo dos dois negócios e de mais alguns, basicamente pelo valor que ela desembolsou.

Trata-se do maior movimento de alienação da história da empresa e é parte do processo da P&G de reorientar a companhia para as suas 65 marcas centrais que são mais rápido crescimento. Mais do que isso, ao se desfazer das marcas de perfumaria, maquiagem e profissional a P&G volta as suas origens e se concentra nos grandes canais de distribuição do varejo, como o alimentar e as drugstores, que são a alma do negócio da maior empresa de bens de consumo do mundo.

Mais Unilever, menos L´Oréal
O acordo irá simplificar radicalmente o negócio de beleza da P&G, que vai perder cerca de 30% dos quase US$ 20 bilhões em faturamento.

No seu auge, o portfólio de beleza, uma das quatro divisões da maior empresa de bens de consumo do planeta, poderia ser organizado de maneira muito parecida com a da sua rival francesa L´Oréal - uma empresa exclusivamente de beleza - com unidades de negócios de mass market, luxo e profissional, além de uma divisão de dermocosméticos (sim, a P&G também entrou no segmento nos anos 2000 com a compra da marca DDF, vendida no ano passado para a Designer Parfums). O problema é que essa divisão interna nunca aconteceu na companhia e, nos últimos anos, ela se perdeu em meio a falta de foco entre os seus diversos negócios na área. “Embora a P&G lance uma série de novos produtos, ela tem sido incapaz de manter o mesmo ritmo de inovação, com dificuldades para equilibrar os recursos de P & D por todo o seu portfólio bastante diversificado, que vai de lavanderia, lâminas, higiene oral e cuidados com a pele”, disse a analista da Euromonitor, Oru Mohhiudin em um texto de 2013.

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Para o leitor ter uma ideia do que representou essa falta de foco, em 2002, as vendas da Wella (incluindo um negócio de perfumaria relativamente pequena com as marcas Gucci, Gabriela Sabbatini e Escada), foram de 3,4 bilhões de euros, cerca de US$ 3,7 bilhões pelo câmbio atual. No último ano fiscal da P&G encerrado em junho de 2014, as vendas de coloração de varejo e produtos profissionais para os cabelos – considerando o negócio de Wella e Clairol, foram de US$ 2,5 bilhões.

Na visão de Mohiuddin, o maior problema da P&G é a falta de sinergia entre os diversos segmentos de atuação da empresa, um problema já enfrentado pela concorrência. “O objetivo da Unilever é conseguir mais profundida nas categorias em que atua e obter mais espaço nas gôndolas dos supermercados cobrindo vários posicionamentos de preço e subcategorias”, diz o relatório da analista, citando o portfólio de cuidados com os cabelos da empresa anglo-holandesa. “Alinhando o seu foco em categorias presentes nos supermercados, a Unilever fortalece a sua presença no canal e obtém sinergias de distribuição importantes”.

Ainda assim a P&G vai operar um negócio de beleza gigantesco. No total, a nova P&G Beauty Será uma empresa de US$ 14 bilhões em vendas anuais, muito mais focada nos segmentos de cabelos e pele distribuídos em grandes varejistas, que estão na essência do seu negócio. Apenas com as marcas de cuidados com os cabelos Pantene e Head & Shoulders e as de cuidados com a pele Olay e SK-II, o mercado estima que a P&G faça mais de US$ 9 bilhões em vendas anuais. No caso de SK-II, ainda que seja uma marca de luxo, a P&G não tem planos de vendê-la. É um negócio que está com a empresa há muito tempo, movimenta mais de US$ 1 bilhão ao ano e que cumpre um papel importante no desenvolvimento de novas tecnologias e inovações no segmento que poderão ser aplicadas na linha de mass market Olay, outra marca bilionária da empresa. Além disso, apesar de diferente, a distribuição da marca é pouco complexa já que a maior parte do negócio está concentrada nas lojas de departamento asiáticas

No Brasil, a P&G é hoje a quarta maior empresa de beleza, de acordo com a consultoria Euromonitor, com market share de 9,4%, um número que tende a cair um pouco ao final da transação com a Coty.

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