A arquitetura de um novo clássico

O que faz uma fragrância evoluir do status de um grande perfume para aquele de um verdadeiro clássico? Conheça alguns exemplos recentes de produtos que ultrapassaram essa exclusivíssima fronteira do prestígio, para entrar no panteão dos ícones da perfumaria moderna.

Alguns perfumes ganham a distinção de clássicos em razão de sua longevidade no mercado ou, ainda, por inaugurarem e, posteriormente, ditarem novas tendências e formas de se comunicar com o consumidor. São fragrâncias que marcam época e continuam apresentando bons números de vendas mesmo muitos anos após o seu lançamento. Um grupo bastante seletivo delas consegue um feito ainda maior: virar sinônimo da palavra clássico e vir instantaneamente à mente das pessoas assim que o termo é mencionado.

Esse é o caso, por exemplo, do Chanel nº5, perfume criado por Coco Chanel na década de 1920, e que inaugurou a era dos aldeídos na perfumaria. No ano passado, o perfume ganhou uma releitura, o Chanel nº 5 Eau Première, uma versão redesenhada por Jacques Polge, perfumista da Maison Chanel, que lhe deu uma configuração mais leve, fresca, delicada e, dessa forma, mais apropriada para o uso no dia-a –dia, respeitando , contudo, a inspiração olfativa original do perfume, com a presença das notas da rosa absoluta, jasmim, neroli e ylang-ylang.

Outras fragrâncias também são bastante lembradas por seu pioneirismo clássico, como é o caso do Opium, de Yves Saint Laurent (anos 1970); Anais Anais, da Cacharel (anos 1980); Lair du Temps, de Nina Ricci (anos 1940); Polo, da Ralph Lauren (anos 1970) e Paco Rabanne (anos 1970). Beautiful, de Estée Lauder (anos 1980), é considerado outro ícone da perfumaria, e ainda hoje está entre os primeiros em vendas nos Estados Unidos, alicerçada por um forte suporte de mídia e estratégia de criação flankers, dando apoio à marca principal.

O que é um clássico?
A casa de fragrância suíça Givaudan define uma fragrância clássica como uma criação de enorme importância em sua era, que inspirou e continua a inspirar perfumistas a partir de sua introdução no mercado. Muitos desses profissionais fizeram uso pela primeira vez de determinados ingredientes, ou de uma overdose deles, como foi o caso dos aldeídos no Chanel nº 5. Outros definiram um novo tema olfativo, como as notas gustativas do Angel, de Thierry Mügler, que marcou uma era e foi um divisor de águas. Muitos destes clássicos continuam efetivamente no mercado – ou em espírito – há 25 anos ou mais, diz Flávia Motta , a diretora de Marketing da Givaudan na América Latina.

Angel foi a primeira fragrância gourmand lançada no mercado e que não tem flores em sua composição. Desenvolvida há 17 anos pelo perfumista Olivier Cresp, da casa de fragrâncias Quest (hoje Givaudan), ele foi criado com o objetivo traduzir em uma fragrância o complexo universo de Thierry Mügler. Angel quebrou paradigmas. É um perfume que remete a infância e ao mesmo tempo transmite sensualidade. Vera Strubi, criadora do perfume, sempre conta que quando Thierry Mügler a chamou para passar o briefing, disse que queria algo ao mesmo tempo imaculado e sensual. Seu frasco é uma luxuosa estrela, símbolo máximo de Thierry Mügler. Por isso, também, ele sempre escolhe pessoalmente a modelo que vai mostrar o rosto nas campanhas do perfume Angel: ele quer simplesmente a mulher que julga a mais bonita do mundo, com toda sua beleza e imagem de estrela, afirma Viviane Soares, diretora do Grupo Clarins, que detém as marcas Azzaro e Thierry Mügler além da própria Clarins.

A Firmenich, por sua vez, tem uma visão mais pragmática do que é um clássico: para a casa de fragrância suíça, os perfumes que estrelam essa categoria ultra seletiva são aqueles que conseguem se manter entre os perfumes mais vendidos por pelo menos cinco anos consecutivos em seu país, ou em uma região específica. Mais do que isso, clássico é aquele perfume que se torna uma referência olfativa, que pode ser reconhecida pelos consumidores, opina Paula Ferrari, diretora regional de Desenvolvimento de Fragrâncias para Perfumaria Fina da Firmenich.

Tempos modernos
Já no entendimento de Eloísa Mello, gerente de Desenvolvimento de Fragrâncias para a América Latina da IFF, desenvolver um novo clássico sempre suscita encontrar respostas para uma questão fundamental: Como criar um novo clássico num cenário em que a perfumaria mundial lança anualmente uma enxurrada de fragrâncias?.

Em busca da resposta, a revista Atualidade Cosmética foi atrás daqueles que são considerados os Novos Clássicos da perfumaria internacional. Para tanto, traçamos um período que vai desde 1995 até hoje, e procuramos saber quais fragrâncias que já consideradas clássicas mesmo com pouco mais de 10 anos.

Um desses novos clássicos é o perfume 212, de Carolina Herrera. Lançado em 1997, a fragrância desenvolvida pelos perfumistas Alberto Morillas e Rosendo Mateu, junto à Casa de Fragrância Firmenich, teve como proposta transmitir sensações cosmopolitas, com inspiração em Nova York, uma cidade universal e contemporânea. O perfume traduz muito bem essa proposta tanto no nome (212 é o código postal de NY) como no frasco metalizado e também nas notas olfativas que evoluem continuamente. Sua nota de saída, um floral verde (composta por caules de flores) e o fundo amadeirado misturado ao almíscar. É um perfume que provoca fortes sensações e o design inovador do frasco dá um charme a mais ao produto, definiu Gloria Rodrigues, gerente do grupo Puig com as marcas Carolina Herrera, Prada, Paco Rabanne e Nina Ricci.

Segundo ela, o objetivo de 212 foi atingir o público jovem e conquistar um posicionamento top 10. Essa meta foi alcançada e o perfume é um sucesso mundial. O universo 212 hoje é composto por 212 e 212 Men, 212 Sexy e 212 Sexy Men, além das edições limitadas sempre muito criativas. No Brasil a marca Carolina Herrera é líder pelo 4º ano consecutivo, no segmento de fragrâncias, devido ao sucesso da linha 212, completou Gloria. O projeto deste perfume foi orquestrado por Carolina Herrera Jr, que inclusive marcou sua estreia no universo da perfumaria.

Para Eloisa Mello, da IFF, marcas como Coco Mademoiselle (2001) e Chance ( 2002) continuaram a saga Chanel. Analisando fator de sucesso, estamos falando de uma marca extremamente excepcional (Chanel) e também de estruturas olfativas que revolucionaram seu tempo. Chanel 5, floral aldeídico, Coco Mademoiselle e Chance, maravilhosas reinterpretações da família Chypre, volta ao glamour que estava perdido em um passado distante. Além, claro, estruturas olfativas muito bem trabalhadas, suporte tremendo e por constante publicidade/mídia. Para mim, a mais global de todas as marcas é Chanel. Se a analisarmos, observamos que poucos lançamentos são feitos, mas os poucos produtos lançados, vem para marcar território no mercado, explicou.

A fragrância Giorgio Armani Acqua di Gio Homme, criada pelo perfumista francês Jacques Cavallier e lançada em 1996, é outro novo clássico. Segundo o formador comercial da LOréal, Luciano Paiva, Acqua di Gio pode ser classificada como um Aromático Aquático, pois pertence a uma família olfativa caracterizada por notas que remetem a fragrâncias e notas marinhas (odores frescos). Para sua criação, a inspiração foi a Ilha de Pantelleria na Sicilia, Itália; onde o Sr. Giorgio Armani passa suas férias; cuja proposta é um convite á liberdade, como um mergulho no mediterrâneo. O objetivo desta fragrância no momento do lançamento era mostrar para o público masculino uma nova proposta em perfumes, pois não eram comuns em perfumes masculinos bases florais e frutadas, rapidamente a fragrância se tornou um clássico da perfumaria, também alavancado pelo fato de ser uma fragrância absolutamente jovem, o que acabara por agregar um novo perfil de consumidor a Casa Armani, disse Luciano.

Outro perfume que muitos se referem como neo clássico é o Pólo Blue, da Ralph Lauren, de 2003. Seus criadores foram Christophe Laudamiel e Carlos Benaim, e tiveram como objetivo seguir o sucesso da franquia Pólo, cujo primeiro perfume foi lançado em 1978, mas direcionado para um homem urbano, jovem e elegante, refletindo frescor, energia e liberdade. Suas notas deixam bem claro a proposta de criação da fragrância, caracterizada por frescor imediato e elegância jovial. Dentro das famílias Olfativas é considerado um Aromático Tônico. Também remete ao frescor de notas marinhas e acordes cítricos (a famosa sensação de banho tomado). Seu frasco de linhas sóbrias e masculinas, reflete o estilo Ralph Lauren de luxo, clássico e elegante, explicou o formador comercial da LOréal, que lembrou também que o ano de 2009 será um grande ano para franquia Pólo, uma vez que a mais importante fragrância da franquia acabou de fazer 30 anos, o perfume Pólo clássico. Para comemorar, será lançada uma edição de aniversário, que resgata a perfumaria clássica, numa fragrância amadeirada, elegante e completamente masculina, mas também de acordes modernos.

Lançado em 2000, o perfume Flower By Kenzo já é um clássico que vende cerca de 6 milhões de unidades por ano. Criado pelo perfumista da Firmenich, Alberto Morillas, a fragrância surgiu com o intuito de desenvolver um perfume único e atemporal. Visto seu sucesso podemos afirmar que esse objetivo foi alcançado. O Flower desde seu lançamento é um dos perfumes mais mais vendidos no mundo inteiro ocupando posições entre 3ª, 4ª nos rankings das 10 fragrâncias mais vendidas, disse a responsável pelo marketing da marca distribuída pela LVMH Parfums et Cosmétiques do Brasil S.A, Daniela Spadoni.

Segunda ela, o sucesso do perfume se deve a criatividade envolvida no seu desenvolvimento como seu frasco, sua fragrância, e seu conceito. É um perfume inconfundível que tem por trás dele uma história envolvente, que o torna um clássico. A flor significa a poesia, o elo que nos liga a natureza num mundo cada vez mais tecnológico e urbano. O poder de uma flor forte e singular, inodora por natureza teve seu perfume criado pela Kenzo. Uma fragrância floral atalcada que encanta quem a sente. Além disso o frasco é lindo e pode ser usado como objeto de decoração, ou seja, a criatividade está presente em tudo. A fragrância que é única e o frasco atraente e elegante, finalizou.

Um clássico moderno é uma criação contemporânea que tornou-se um best seller nos últimos 12-15 anos ou que atingiu o status de perfume cult em uma relativa curta existência. Posso citar, por exemplo, Miss Dior Cherie (Dior) e Narciso Rodriguez for Her (Narciso Rodriguez), disse Flávia Motta da Givaudan. Não é apenas o sucesso comercial que torna uma fragrância um clássico. É necessário tornar-se um mito, uma lenda cultuada na perfumaria por ser tão memorável e única, por ter sido um lançamento tão ousado para sua época. Todo clássico tem uma relação direta com timing - é o perfume certo para o momento certo, tem coerência com sua época, representa todos os anseios olfativos de seu tempo, completou.

Já a Firmenich aponta também os seguintes clássicos internacionais femininos: Lolita Lempicka (Lolita Lempicka); Happy (Clinique); Hypnotic Poison (Dior); Romance Woman (Ralph Lauren); Light Blue (Dolce & Gabbana); Amor Amor (Cacharel) e Very Irresistible (Givenchy). Além das fragrâncias masculinos Boss (Hugo Boss) e Armani Code (Giorgio Armani).

A IFF cita: Miracle (Lancome); Euphoria (Calvin Klein); The One (Dolce & Gabbana); Noa (Cacharel); Prada (Prada); Bulgari pour Femme (Bulgari) e Burberry Brit (Burberry). Para se ter um clássico, não existe fórmula mágica e nem tampouco uma resposta precisa, mas alguns elementos são fundamentais. Entre eles: tempo para criar, a busca da perfeição, dedicação, entendimento do consumidor e por que não ser arrojado? Se Thierry Mugler não fosse, Angel jamais existiria, exemplificou Eloisa Mello, da IFF.

As casas de fragrâncias já fazem suas apostas nos futuros clássicos da perfumaria, ou seja, lançamentos mais recentes que, devido ao seu sucesso de vendas e de aceitação entre os consumidores, provavelmente se transformarão nos clássicos de amanhã. A Firmenich coloca suas fichas nos seguintes perfumes: Masculino - Black XS (Paco Rabbane - 2005). Femininos - Nina (Nina Ricci - 2006). Além de Princess Vera Wang (Vera Wang - 2006) e Juicy Couture (Juicy Couture - 2006), que também são apostas da IFF, além dos perfumes Bulgari Jasmim Noir (Bulgari – 2008) e Burberry the beat (Burberry – 2008).

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